Com certeza você já viu uma abelha voando, perdida dentro da sua casa ou polinizando as flores do jardim.
Quando se fala em abelha, logo vem em nossa mente a imagem daquele inseto amarelo, com listras pretas e é inevitável não pensar na dolorosa ferroada.
Mas você sabia que existem abelhas nativas do Brasil que são muito diferentes das abelhas “comuns” (chamadas de europeias ou africanizadas)? E mais, você sabia que muitas dessas espécies não possuem ferrão?
Continue a leitura para aprender um pouco mais sobre esses importantes insetos.
Quem são as abelhas?
As abelhas pertencem à ordem Hymenoptera (himenópteros), junto com as vespas e as formigas, dentro da classe dos insetos, que por sua vez se encontram no filo dos artrópodes.
A teoria mais aceita é que elas tenham se originado há cerca de 100 milhões de anos, a partir de um grupo de vespas que, ao longo da evolução, alterou seus hábitos alimentares, deixando de se alimentar de outros insetos e ácaros para utilizar o néctar e pólen das flores como fonte de nutrientes.
No mundo, existem aproximadamente 20 mil espécies de abelhas já descritas que apresentam uma enorme variedade de tamanhos, formas, cores e hábitos.
De acordo com a Associação Brasileira de Estudos das Abelhas (A.B.E.L.H.A.), das 20 mil espécies, a grande maioria (cerca de 77%) tem hábito de vida solitário, ou seja, não constroem colmeias e não vivem em colônias, como as mamangavas.
Dentre os outros modos de vida, 13% são parasitas de ninhadas, 0,5% são parasitas sociais e 9,5% são eussociais (verdadeiramente sociais), como é o caso da Apis mellifera (abelha europeia ou africanizada) e das abelhas nativas sem ferrão.
As abelhas nativas
No Brasil, são cerca de 1678 espécies conhecidas e os cientistas estimam que esse número chegue a mais de 2500 espécies nativas do país, sendo uma das maiores diversidades da Terra.
Dentro dessa grande variedade encontrada, um grupo que se destaca pela sua importância são as abelhas da tribo Meliponini, também chamadas de meliponíneos, abelhas indígenas ou abelhas sem ferrão (ASF), por terem o ferrão atrofiado e não picarem.
Atualmente são conhecidas pouco mais de 500 espécies de meliponíneos no mundo, distribuídas nas regiões tropicais e subtropicais e se concentrando principalmente na região Neotropical (América Central e do Sul), sendo conhecidas no Brasil entre 200 a 300 espécies.
As espécies brasileiras geralmente são conhecidas pelos seus nomes populares que em sua maioria foram dados pelos povos indígenas. Dentre as mais famosas estão a Jataí, Mandaçaia, Uruçu, Arapuá, Marmelada, Tubuna, entre muitas outras.
A tribo meliponini é mais antiga do que as abelhas africanizadas, tendo surgido há mais ou menos 74-80 milhões de anos, ainda durante a existência do continente Gondwana, ou seja, elas estão aqui na Terra há muito mais tempo que nós humanos.
Além disso, as abelhas nativas são os principais polinizadores em diversos ecossistemas, polinizando espécies de plantas nativas que outros grupos (como as abelhas europeias) não polinizam, uma vez que existe uma delicada e longa relação coevolutiva entre as plantas com suas flores e as abelhas de determinado bioma.
A importância das abelhas
Consideradas um dos animais mais importantes do mundo, as abelhas vêm ganhando cada vez mais atenção da mídia e dos pesquisadores.
Além dos benefícios econômicos da produção do mel, esse grupo de insetos é responsável por grande parte da polinização tanto de espécies vegetais agrícolas, quanto de espécies de plantas selvagens, sendo essenciais para a produção de alimentos e para a manutenção e equilíbrio dos ecossistemas naturais.
Para muitas angiospermas (plantas com flores) só é possível produzir frutos e sementes quando ocorre a polinização como resultado da interação inseto-planta, isto é, quando um inseto pousa na flor e ao se alimentar do néctar e coletar o pólen acaba o levando e fertilizando a próxima flor em que pousar.
Esse processo possibilita que as plantas garantam sua variabilidade genética e a dispersão da sua espécie, o que é essencial para o equilíbrio da vida no planeta.
As abelhas estão morrendo?
Apesar da evidente importância econômica e ecológica das abelhas, as populações das mesmas estão em declínio por todo o mundo, o que vem preocupando os cientistas e os criadores.
Dentre os principais motivos relacionados à essa perda em massa de colmeias, os mais citados são relacionados às ações humanas, como a perda de habitats e recursos, resultantes do desmatamento e a intoxicação pelo uso indiscriminado de agrotóxicos.
A exposição aos agrotóxicos causa não apenas efeitos letais, matando as abelhas em pouco tempo, mas também efeitos subletais que são responsáveis por alterações prejudiciais na fisiologia e no comportamento das abelhas, comprometendo o funcionamento e sobrevivência das colônias a longo prazo.
Nesse sentido, um estudo publicado em 2020 mostrou que a presença do Imidacloprido (um dos inseticidas mais utilizados nas lavouras do mundo) em ambiente de laboratório, reduziu significativamente a comunicação entre as abelhas da espécie Mandaçaia, o que possivelmente pode atrapalhar nas atividades dentro da colmeia ou na busca por alimentos e recursos.
Os dados obtidos em diversas pesquisas atuais sobre a relação entre as ações humanas e o “sumiço” das abelhas apontam que é necessária uma mudança na nossa forma de nos relacionarmos com elas e com todos os seres vivos existentes.
Meliponicultura: criação de abelhas sem ferrão
Ainda que exista uma antiga relação entre o ser humano e as abelhas nativas, só recentemente que começamos aprimorar os métodos de criação para reduzir os impactos na colmeia e otimizar a produção das mesmas.
A criação de meliponíneos vem evoluindo e hoje temos um conjunto de técnicas racionais de cultivo e manejo chamado Meliponicultura.
Considerada uma atividade socialmente justa, economicamente viável e ecologicamente correta, a criação de abelhas sem ferrão só causa benefícios para os humanos, para as abelhas e para o meio ambiente.
Seja pela renda extra vinda da venda dos produtos e das próprias colmeias, seja para otimizar a produção de alimentos vegetais ou simplesmente para auxiliar na propagação das espécies de abelhas nativas, a meliponicultura é uma prática que vem se popularizando cada vez mais no país.
Por se tratar de abelhas que não ferroam e que podem ser criadas em pequenos espaços, perto da casa, as pessoas estão começando a notar sua importância e as vantagens de cultivá-las.
E agora que você já sabe mais sobre a importância das abelhas nativas, que tal aprender um pouco sobre as técnicas da Meliponicultura e quem sabe se tornar um criador de abelhas sem ferrão?
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É um ótimo material para iniciar seus estudos!
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